A PERDA DE MEMÓRIAS E
A DOENÇA DE ALZHEIMER
Perder memórias é uma preocupação bastante comum à medida que envelhecemos. Logo de início, é importante esclarecer que é normal ter episódios de esquecimento, especialmente na terceira idade, mas também durante a juventude ou na vida adulta em momentos de estresse, pressão ou de grande exigência mental.
Hoje sabemos que os processos degenerativos que levam ao quadro clínico do Alzheimer começam a acontecer no cérebro anos ou até mesmo décadas antes do aparecimento dos sintomas. Ainda não é possível prever com grande grau de confiança quem irá desenvolver Alzheimer, mas cada vez mais a neurociência e a neurologia avançam na identificação de marcadores que podem constituir, no futuro, um exame clínico de rotina, seja por neuroimagem ou mesmo um exame de sangue.
Embora ainda não saibamos a[s] causa[s] específica[s] que levam a esta doença, também já avançamos consideravelmente no entendimento dos fatores de risco. Doenças metabólicas, como obesidade e diabetes tipo 2, bem como depressão, sedentarismo e privação de sono são alguns fatores que aumentam a chance de desenvolver Alzheimer durante a velhice. Como se pode imaginar, muitos destes fatores de risco estão intimamente associados com o nosso estilo de vida moderno que envolve hábitos pouco saudáveis de alimentação, pouco exercício físico, muito estresse mental e poucas horas de sono.
Centenas de testes clínicos estão em andamento no mundo todo e alguns apontam para medicamentos que retardam [mas não necessariamente curam] a perda de memória. No entanto, considerando todos os riscos e complicadores que a aprovação de um novo remédio para o uso humano envolvem, temos que ser cautelosos e aguardar a finalização de todas as etapas para termos informações mais confiáveis. Para uma doença tão incapacitante, ganhar alguns meses ou anos de qualidade de vida já é um enorme benefício para pacientes e familiares. A ciência tem avançado significativamente na área e a perspectiva é de uso conjunto de novos biomarcadores para tentar identificar e intervir o mais cedo possível com os medicamentos em desenvolvimento.
Por enquanto, devemos tentar prevenir o Alzheimer e também melhorar a qualidade de vida dos idosos que já desenvolveram a doença. O cuidado, a atenção e a compreensão com parentes e pessoas próximas que possuem Alzheimer deve sempre nortear nossas ações, uma vez que são essenciais para proporcionar qualidade de vida aos pacientes. Por fim, cabe ressaltar que a ciência está ao lado dos pacientes e familiares e tem trabalhado incansavelmente em diversas frentes para responder perguntas que ainda existem na área e identificar estratégias de intervenção que funcionem para os pacientes.
Mychael Lourenço
Neurocientista e Professor da UFRJ