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MEMÓRIAS DE VIDA E

A DOENÇA DE ALZHEIMER

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A primeira coisa que associamos à doença de Alzheimer é a perda de memória. As memórias, as nossas experiências, coisas que nos fazem únicos, singulares. No filme ficcional The Boys from Brazil [Os comandos da Morte, em português] de 1978, Josef Menguele tem o projeto de clonar Adolf Hitler, tendo preservado o DNA dele após a segunda guerra mundial. Nesse premiado filme, 94 bebês são gerados e colocados para adoção em várias partes do mundo, por pais com características dos pais de Hitler: pais dominadores e mães protetoras bem mais jovens. Ainda no plano de Menguele, os pais são assassinados aos 65 anos, também para simular a vida do jovem Adolf que cresce só com a mãe. Mas seriam esses fatores – além dos genes – como as experiências similares com os pais, suficientes para desenvolver indivíduos com o ímpeto e crueldade parecidos com os de Hitler? Ou as suas infinitas memórias de vida, por mais prosaicas e simples que fossem, todas, contribuíram para formar o que ele foi?

As memórias que carregamos contribuem fortemente para o que somos e o que seremos ainda. Por isso, a doença de Alzheimer se coloca como um grande desafio, não só do ponto de vista clínico e científico, mas também existencial. 

A pesquisa científica sobre a doença de Alzheimer tem avançado muito, porém ainda não chegamos à cura. Por ora, os tratamentos são paliativos, desacelerando a perda da memória e reduzindo os sintomas. Mas ela continua a progredir, inexorável. Hoje sabemos muito sobre os processos celulares que ocorrem nesses cérebros doentes, que envolvem o acúmulo de agregados de proteínas que são patogênicos e que geram uma resposta inflamatória que é lesiva para o tecido nervoso. Também sabemos sobre alguns fatores genéticos e hábitos de vida que podem aumentar ou diminuir a chance de desenvolver a doença. Mas não há um alvo molecular mágico, nem interferência num único gene, que resolva o problema: como muitas outras doenças neurológicas e mentais, a doença de Alzheimer é multifatorial.

Há consenso de que a prática de exercícios físicos, o consumo leve de álcool, índice de massa corporal na faixa normal e constante aprendizado, adiam ou até previnem a doença. E nos dão a chance de acumular as memórias que são “a dor e a delícia de ser o que é”.

Marília Zaluar Guimarães
Professora Associada da UFRJ
Pesquisadora e colaboradora do IDOR
Coordenadora Científica da Rede CpE

 

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